sexta-feira, outubro 23, 2009

Um ambicioso nunca muda, mas sim muda de táctica

Já vai ao fim a campanha eleitoral. No dia 28 de Outubro os moçambicanos vão às urnas. Vão decidir quem serão os próximos deputados e membros das assembleias provinciais. Vão indicar quem será o próximo Garante da Nossa Constituição.

Formalmente somos o povo protagonista do nosso próprio destino. Mas quando aparecem altas figuras do partido no poder a afirmarem que mesmo com a dita democracia, o partido no poder dele não sairá. O que nos obrigam a pensar? Nada mais que concordarmos com Samora Machel quando dizia” Um ambicioso nunca muda, mas sim muda de táctica”.

Todos somos ambiciosos, porque um homem sem ambição é um ser morto. Mas uma ambição desmedida é aquela que matou Urias Simango, Lázaro Nkavandame, Filipe Samuel Magaia, Joana Simeão, Jorge Abreu, Eduardo Mondlane. Uma ambição desmedida é aquela que levou Adelino Guambe, Lourenço Mutaka, Fanuel Mahluza entre tantos a abandonarem a Frelimo da Luta Armada de Libertação Nacional e posteriormente serem perseguidos por esses algozes.

São esses que hoje mudaram de cor, tiraram a pele e nos cobram uma dívida que eles acreditam que nunca terminará. Os moçambicanos pagaram essa dívida com o seu sangue em M’tetela, pelos fuzilamentos públicos em campos de futebol ontem. Não bastou? E hoje mudaram? Desde quando nossos libertadores? Não acham que é com a dita democracia que nós nos consolamos? Se com a dita democracia nos fazem mostrar que nada faremos, o que querem que nós façamos para que reconheçam que o poder vos basta? Não acham que é com essa dita democracia que podem esconder a capa do comunismo stalinista?

Ontem mataram com Samora, depois o trairam porque havia deixado de albelgar os seus interesses, criaram o “acidente” de Mbuzini e hoje servem-se dele para promover a sua imagem. Anteontem mataram Mondlane porque era anticomunista, mesmo sem que ele tenha mostrado claramente isso. Depois eliminaram o seu Vice- Presidente Urias Simango. Hoje perseguem incansavelmente o seu sangue, a única recordação que podemos ter do Reverendo. Dos seus restos mortais nunca saberemos.

São eles que nos fazem acreditar que nunca irão deixar o poder, como se eles nele tivessem nascido, com ele tivessem crescido e com ele tivessem de morrer. Esqueceram-se o que Salazar dizia quando estavam nas matas. Esqueceram-se que Marcello Caetano não queria ouvir falar da Independência das colónias. Mas num dia hastearam a bandeira no Estádio da Machava depois de Caetano ter sido exilado para o Brasil. Esqueceram que o poder não é eterno, ele acaba de várias maneiras. Esqueceram-se que os que ficaram apegues ao poder por muito tempo perderam-no de forma desastrosa, ora por golpes, ora por derrota nas urnas (por cansaço dos eleitores), ora por imposição de outros dentro do mesmo partido.

Sei que por causa desse texto alguns me chamarão de saudosista ou ambicioso, mas não se esqueçam que é essa forma de pensar que queremos todos, eu e você, combater.

Acredito que um história bem contada para os meus futuros filhos lhes ajudará a discernirem melhor sobre quem votar. Eu que fui tantos anos enganado por essa “história oficial” (história lava cérebros) levou-me anos a pensar diferente. Mas tenho a missão de, no mínimo, transmitir aos meus filhos essa verdade, para que estejam sempre atentos à esses “arquitectos do bem estar dos moçambicanos”.

7 comentários:

Reflectindo disse...

Caro Leo

Os que te chama(rão)m de saudisista, dirão que é porque não escreves sobre os Lundos, Nguni, colonialistas ou Muro de Berlim ou seja comunistas?
Prometo-te que pela frontalidade e seriedade, ninguém virá aqui te confrontar.

Mas.... be...

Bom fim de semana

Leovigildo Novidades Juliasse disse...

Obrigado Reflectindo.

Na verdade, quando falamos dessas questões do passado, há tendência dalgumas pessoas em minimizar isso. Por mais que queiramos esquecer, surgem em cada momento os ditos libertadores claramente a mostrarem que não há esperanças para um outro futuro nem para nós nem para as futuras gerações. Como esqueceremos? Não podemos ir para o “exílio”, porque esse é bem nosso. Mas eles se esquecem de que Marcello Caetano algum dia foi à um exílio forçado. Essa é a história. É essa mesma história que lhes condenará.

JOSÉ disse...

Ilustre Leo, a palavra saudosista é muito usada por aquele que têm argumentos fracos.
Somos protagonistas do nosso próprio destino, a tragédia é que muita gente não compreende essa realidade, não questionam e contentam-se apenas com o peixe e legumes.
Parabéns pela coerencia!

Mzimu wa Akayinga disse...

Esta e mais um meditacao. Mais um manifesto...Nao te digo parabens! Desafio-te para continuares a reflictir da maneira que bem soubeste fazer: escrever com clarividencia e frontalidade. Um imperativo de pensar diferente que e negada na nossa piscina politico-social. Eu quando escrevo nao penso no que vao dizer outros comigo nao concordam. Se assim fosse teria conseguido parar de escrever. Vezes sem conta fui aconselhado a faze-lo. Outras vezes fui investigado e inclusivamente conotado com um membro dessas aves e animais que pululam nas banderolas, principalmente quando chega o tempo em que todos sao capazes de resolver o meu problema com eleitor: casa, escola, hospital, agua, saneamento do meio, pontes...No fim do exercicio continuo com o salario minimo para subsistir. Para mim o Estado tem que ser apartidario. Por isso nao me preocupo com o que me dizem o me acham. Sou simpatizante da FRELIMO. Repito, simpatizante e nao membro, mas nao admiro, infelizmente algumas figuras que estao a conduzir o partido e o Estado presentemente. Logo, o meu voto e sempre cruzado....Leo, senao publico aqui outro blog. E apenas comentario tudo porque fiquei entusiasmeado pela tua atitude corajosa de pensar diferente.

Tidzionana, ndapita

Leovigildo Novidades Juliasse disse...

Hei Anfumu a Bihale,

Na verdade, muitas vezes somos vítimas de conotações diversas, muitas delas vindas de pessoas que acreditam que todos nós temos que pensar da mesma maneira.
Esse artigo é mais para reflexão. É mais para olharmos o passado daqueles que hoje dizem-se
titulares eternos do poder nessa pátria e continuam a meter a mesma pátria no abismo. É verdado
que fizeram também coisas boas. Mas coisa melhores poderiam ter sido feitas. Mas esse não é o
problema. O problema é de estarmos reféns de uma dívida da Luta Armada de Libertação Nacional.
Por causa disso não se pode hoje deixar novos talentos para governar.
Quo vadis Moçambique?

Leovigildo Novidades Juliasse disse...

Caro José,

Como se diz, algumas consciência preferem o peixe com legumes por comodismo. Esses são os
conformistas. A única coisa que precisam é preservar o status quo, mesmo que isso fira gravemente
a sua consciência e os seus princípios mais básicos ou fundamentias de vida. Esses já não têm uma
capacidade autónoma de discernimento. O mesmo que fazem os robotes automáticos. Você o
programa e pronto terá a sua tarefa executada.
Como pode ver hoje, existem várias maneiras de programar os nossos cérebros. Até alguns dissem
formatar. Umas das maneiras de programar (se quiser, formatar) as nossas mentes são os curriculas
de algumas da nossas universidades. Esses curriculas são esboçados para formatar um homem
acrítico. Um simples levanta mão. Quando se lhe pergunta porquê levanta a mão diz que foi dito
assim.
É esse homem que interessa o poder actual. Um homem que se levanta contra a própria realidade
imposta é um inimigo. Tudo tem que ser feito para que ele sinta que está no lado do diabo.

Isso é mau.

Reflectindo disse...

Caro Bihale

Plenamente, a minha luta tem sido essa de ver o Estado Mocambicano despartidarizado. Mas tal como Leo afirma, há os que de voz viva, pensam que são os donos porque lutaram pela independência do país, como se os estados despartidarizados nunca tivessem seus libertadores. Hoje, há o pior que se assiste, há os que se sentem que devem se apropriar do Estado não por terem lutado já que não lutaram mesmo, mas porque se fosse isso há os que mais sofreram durante a Luta Armanda de Libertacão Nacional que hoje estão mesmo em penúria.

Eu quero entrar numa instituicão do Estado sem precisar de pensar se o pessoal lá pertence a este e aquele partido.

Boa votacão!