quarta-feira, setembro 19, 2012

Barragem de Mphanda Nkuwa economicamente inviável?

As novas barragens projetadas para o rio Zambeze, o quarto maior da África Austral, não estão preparadas para resistir aos choques das mudanças climáticas, revela um estudo sobre os riscos hidrológicos naquela Bacia divulgado hoje.
O relatório, da autoria do hidrólogo norte-americano Richard Beilfuss, refere que o resultado da construção desses projetos na bacia do Zambeze, no centro de Moçambique, "poderá ser barragens economicamente não viáveis".
Richard Beilfuss considera que as futuras barragens poderão ter "um desempenho abaixo do esperado face às secas mais extremas, e que podem também constituir um perigo pois não foram projetadas para lidar com cheias cada vez mais destrutivas".
"As barragens que estão atualmente a ser propostas e construídas serão negativamente afetadas (pelas mudanças climáticas) e o planeamento energético para a bacia do Zambeze não está a ter em consideração medidas sérias para enfrentar estas enormes incertezas hidrológicas", afirma o estudioso norte-americano.
Atualmente, estão a ser propostos 13.000 megawatts de capacidade geradora para o Zambeze e seus afluentes, mas o relatório revela que as barragens já existentes e as que foram propostas "não estão a ser adequadamente avaliadas em relação aos riscos da variabilidade hidrológica natural (que é extremamente elevada no Zambeze), e muito menos em relação aos riscos inerentes às mudanças climáticas".
"Devemos evitar investir biliões de dólares em projetos que podem vir a ser elefantes brancos", até porque, adianta o relatório, a região "caminha em direção a um precipício hidrológico", considera Richard Beilfuss.
"Os planos para dois dos maiores projetos de barragens para o Zambeze - as barragens de Batoka Gorge (da Zâmbia) e de Mphanda Nkuwa (Moçambique) -, são baseados em arquivos hidrológicos históricos e não foram avaliados em relação aos riscos associados à redução do fluxo anual médio e de ciclos mais extremos de cheias e secas", considera.
Para o estudioso, "é improvável que estas estações hidroelétricas, baseadas em registos de fluxos do último século, forneçam os serviços esperados durante o seu tempo de funcionamento, tendo em conta os futuros cenários climáticos".
Citando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Richard Beilfuss garante que "a Bacia do Zambeze apresenta os piores efeitos potenciais das mudanças climáticas, quando comparada às 11 principais bacias hidrográficas da África subsaariana, e vai enfrentar a redução mais substancial da precipitação e de escoamento".
Vários estudos estimam que a precipitação ao longo da Bacia do Zambeze vai diminuir entre "10 e 15 por cento", pelo que "a Bacia irá, provavelmente, sofrer um aquecimento significativo e maiores taxas de evaporação no próximo século".
"Uma vez que as grandes albufeiras apresentam maior evaporação que os rios naturais, as grandes barragens podem piorar os défices locais de água e reduzir a quantidade de água disponível para a energia hídrica", afirma

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